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História do povo pinhãoense: a preservação do patrimônio histórico de Pinhão

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 Por João Caleber Batista Martins

 

*Historiador/UNICENTRO
Terra diversa e carregada de tradições, o município de Pinhão encontra em seu passado diferentes histórias. Ocupado desde de tempos imemoriais por povos indígenas como os Tupi-Guarani, que se estendiam ao longo de todo o Rio Iguaçu, tem seu marco colonizador com as primeiras expedições vindas da Baía de Paranaguá, em 1760, em busca de ouro e novos territórios. Por volta de 1782, após explorar o Rio Tibagi e penetrar o Rio Iguaçu, Afonso Botelho de Sampaio e Souza chega aos Campos de Pinhão, fundando o Fortim de Nossa Senhora do Carmo. Em 1810, o Tenente Coronel Diogo Pinto de Azevedo, a mando do Rei Dom João VI, chega aos Campos de Guarapuava com uma nova expedição colonizadora, com 200 soldados e suas famílias, fundando o Fortim e povoado de Atalaia. Após 1810, o Fortim de Nossa Senhora do Carmo é ocupado por Silvério Antônio de Oliveira e Antonia Maria de Jesus e seus 10 filhos, que fortificam a “Casa de Pedras”. Anos mais tarde, em 1819, Dom João VI determinou a marcação do “Marco Régio” nos Campos de Guarapuava, dividindo toda a extensão em quatro sesmarias.
O princípio da história do município de Pinhão se dá na sesmaria do lado Sudeste do marco, apontando 19.800 metros para Leste, que continuou sendo ocupada por Silvério Antônio de Oliveira e sua família e, posteriormente, por outros moradores que aqui chegaram. Foram inúmeras as famílias que ocuparam e ocupam esses campos, desenvolvendo o comércio, caso de Luís Dellê, um dos primeiros comerciantes; a saúde, como o enfermeiro Trifon Hanycz; e a educação, através de Pedro Antonio de Carvalho, um dos primeiros professores. Outras famílias também podem ser citadas: os Bischoff, Zattar, Lupepsa, Mazurechen, Martins, França, Machado, Antunes, Prestes, Lima, entre muitas outras que trouxeram para o município diferentes costumes, tradições e importantes vivências para a nossa História. Todavia, o conhecimento sobre a História da nossa cidade e de seus moradores só se torna possível quando elementos da nossa memória são preservados.
Dessa forma, a compreensão do patrimônio histórico colabora para que a História local, desenvolvida pelas comunidades, não se perca com o tempo. Este patrimônio pode ter distintas formas, materiais e imateriais. Prédios, estátuas, quadros, móveis domésticos, podem ser entendidos como patrimônios históricos assim como as danças, a culinária, as músicas, as quais podem contar parte da nossa história. Utensílios domésticos podem contar como era o cotidiano das mulheres em um determinado contexto, como preparavam os alimentos, como costuravam as roupas. Objetos e fazeres que podem nos contar sobre seu cotidiano: o que podiam fazer e o que não podiam. A origem social de objetos nos aponta quais grupos conseguiam ter certos utensílios domésticos e quais não. Equipamentos de cavalgar, ferramentas de lavoura, bagagens de viagens nos indicam os meios de plantio, locomoção e formas de deslocamento, quais pessoas viajavam, para onde e porque em uma determinada época.
Todas essas histórias são, essencialmente, zeladas, estudadas e conhecidas quando se preserva o patrimônio histórico. A historiadora Emília Viotti da Costa certa vez disse que “Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado”. A História de Pinhão, desde seus primeiros moradores, nos ensina sobre quem somos, sobre nossos costumes e tradições, e, também, para onde queremos ir. A nossa História reside em nossa memória. Uma memória que se preserva quando se zela pelo patrimônio histórico cultural. O Museu Municipal José Silvério de Camargo, localizado na avenida Trifon Hanycz, próximo a Secretaria de Esporte de Pinhão, possui um acervo significativo que apresenta, mais que sua antiguidade, a História do nosso município e de seus habitantes. Quando falamos na preservação do patrimônio histórico, o investimento em ações e políticas públicas é de extrema importância. Ações como o projeto de extensão universitária "Patrimônio, Educação e História Pública", do curso de História da Universidade Estadual do Centro-Oeste, desenvolvido neste ano de 2023 em Pinhão, dando origem a essa fala, colaboram para o fortalecimento da memória de nossa comunidade, pois trazem para a discussão a valorização do nosso patrimônio histórico.
Nota: João Caleber Batista Martins é graduando em História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste e professor pela Secretaria de Educação do Município de Pinhão.
Referências:
CARVALHO, Antonio Carlos de. Preservação do patrimônio histórico no Brasil: estratégias. Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio. v. 4, n. 1, p. 117-126, 2011.
CAMARGO, José Silvério de. Por que nosso município chama-se Pinhão?. Secretaria de Educação e Cultura de Pinhão - Município de Pinhão, 1999.
KRÜGER, Nivaldo. Guarapuava: Fases Históricas, Ciclos Econômicos.
PADILHA, Renata Cardoso. Documentação museológica e gestão de acervo. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 2014.
TELO DA CORTE, Andrea; et tal. Como fazer a história local se tornar pública, e para quem?.In: ALMEIDA, J. R; RODRIGUES, R. R (org). História Pública em Movimento. São Paulo: Letra e vos, p.89-103, 2021.

Assessoria

27/02/2023